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sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Exílio





                                                     fotografia Carlos Monteiro





                      Setenta anos




O velho olha para trás e há um menino
sentado no quintal. Em frente
alguém pintou um pássaro doente
batendo agora as asas sem destino.
Sou eu esse menino ou sou
o pássaro doente? E aonde vou
se é o quintal uma saudade ausente
e de mim afinal nada sobrou?
Agora o velho já não tem quintal.
A noite cai em cima da memória
como uma pedra na água mais serena.
A tua boca, mãe, sabia a sal
e há muito que saiu da tua história
esse menino de quem hoje tenho pena.

( de Manuel Alberto Valente, Póvoa de Varzim, Correntes D’Escrita 2017)