fotografia Carlos Monteiro
Setenta anos
O velho olha para trás e há um menino
sentado no quintal. Em frente
alguém pintou um pássaro doente
batendo agora as asas sem destino.
Sou eu esse menino ou sou
o pássaro doente? E aonde vou
se é o quintal uma saudade ausente
e de mim afinal nada sobrou?
Agora o velho já não tem quintal.
A noite cai em cima da memória
como uma pedra na água mais serena.
A tua boca, mãe, sabia a sal
e há muito que saiu da tua história
esse menino de quem hoje tenho pena.