Luaty Beirão
Com a chancela da editora
Tinta da China e a apresentação por Pacheco Pereira, foi feito o lançamento do
livro do Luaty, no Cinearte, que por ironia
do destino se situa no Largo de Santos (!).
Apesar da forte
chuvada que precedeu a hora marcada, a sala estava a abarrotar e não faltou
gente jovem de todas as raças, com notoriedade em intervenções públicas, professores
universitários e músicos de renome.
Luaty personifica,
quer ele queira ou não, a simplicidade dos heróis.
Há quarentas anos
atrás, ameaçado de morte e coarctado das minhas liberdades individuais optei
pela “fuga”, enquanto ele, agora, enfrentou o problema.
Creio que a
repressão no meu tempo, feita simultaneamente pela DISA, polícia política do
regime comunista angolano e pelos seus companheiros cubanos, era feita “a
tiro”, à semelhança do “paredon” em Cuba, como se verificou no 27 de Maio de
1977, ocorrido menos de dois meses após eu ter abandonado o território
Angolano.
Acompanhei a par e
passo a via-sacra dos revus (ou 15+2), e fiquei a admirar a coragem que lhes
permitiu nunca vacilar. Se mesmo numa democracia não é fácil, imagine-se agora
numa ditadura!
Não podia deixar de estar presente, e cumpri com esse acto
cívico, o que a minha consciência me ditou.
Tive ainda a
felicidade do Luaty ter aceite a oferta do livrito que escrevi e que narra o
quanto me custou, e continua a custar, ter sido forçado a deixar a minha terra.
O momento em que oferecia o meu livrito ao Luaty.
A dedicatória que ele me escreveu no livro que adquiri, que
já estou a devorar, a que não falta a ironia que muitas vezes utiliza, uma característica
bem própria dos angolanos:
O
génio do Diabo está em fazer que se iluda
o pobre coitado
derrotado
na luta.
Sorrindo
acenava um maço de notas bem guda
e
juro
ali
não tinha cara de Manguxi e Kitumba
e também pela mensagem que o livro transmite:
Sou eu mais livre, então
na
solidão do meu degredo,
do
que tu que vives preso
à escravidão do
medo