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sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Sou eu mais livre, então



Luaty Beirão


  Com a chancela da editora Tinta da China e a apresentação por Pacheco Pereira, foi feito o lançamento do livro do Luaty, no Cinearte, que por ironia  do destino se situa no Largo de Santos (!).
  Apesar da forte chuvada que precedeu a hora marcada, a sala estava a abarrotar e não faltou gente jovem de todas as raças, com notoriedade em intervenções públicas, professores universitários e músicos de renome.
  Luaty personifica, quer ele queira ou não, a simplicidade dos heróis.
  Há quarentas anos atrás, ameaçado de morte e coarctado das minhas liberdades individuais optei pela “fuga”, enquanto ele, agora, enfrentou o problema.
  Creio que a repressão no meu tempo, feita simultaneamente pela DISA, polícia política do regime comunista angolano e pelos seus companheiros cubanos, era feita “a tiro”, à semelhança do “paredon” em Cuba, como se verificou no 27 de Maio de 1977, ocorrido menos de dois meses após eu ter abandonado o território Angolano.
  Acompanhei a par e passo a via-sacra dos revus (ou 15+2), e fiquei a admirar a coragem que lhes permitiu nunca vacilar. Se mesmo numa democracia não é fácil, imagine-se agora numa ditadura!
 
Não podia deixar de estar presente, e cumpri com esse acto cívico, o que a minha consciência me ditou.

  Tive ainda a felicidade do Luaty ter aceite a oferta do livrito que escrevi e que narra o quanto me custou, e continua a custar, ter sido forçado a deixar a minha terra.
  
        Obrigado Luaty.
 



       O momento em que oferecia o meu livrito ao Luaty.

 


A dedicatória que ele me escreveu no livro que adquiri, que já estou a devorar, a que não falta a ironia que muitas vezes utiliza, uma característica bem própria dos angolanos:
           
                  O génio do Diabo está em fazer que se iluda
                  o pobre coitado
                  derrotado na luta.
                  Sorrindo acenava um maço de notas bem guda
                  e juro
                  ali não tinha cara de Manguxi e Kitumba

e também pela mensagem que o livro transmite:

                  Sou eu mais livre, então
                  na solidão do meu degredo,
                  do que tu que vives preso
                  à escravidão do medo