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segunda-feira, 3 de abril de 2017

Ondjaki e os camarões


     Juju comandante das FAPLA e o filho

     Ondjaki escritor angolano                               

Resumo da entrevista do escritor “angolano” Ondjaki:



1 - Chega a altura em que tens de tomar uma opção. A guerra anti colonial começou em 1961 e em 1968 estás na ilha de Luanda a comer camarões?
Houve brancos que ficaram em Angola depois da Independência!
Os que abandonaram, não digam - tive que sair de Angola. Foi uma opção que tomaram.
Não vamos branquear nem escurecer a história. Cada um fez as suas escolhas.

2 - Quando Savimbi morre, quem fica vivo diz: “então, eu é que sou o arquitecto da paz”. E isso vai ficando, é fácil fazer isso passar num país que esteve tanto tempo em guerra.

3 - A Isabel dos Santos fará com o seu poder financeiro aquilo que uma pessoa na América ou na Europa também consegue fazer: o lobby que bem entender. Não é só ela, mas toda uma nova geração que já vai começar a aparecer, e que tem isso de herança.

4 - Os próximos vão ter de lutar por uma distribuição mais justa e mais ética do rendimento nacional, de modo a atenuar a desigualdade social, contra décadas de uma outra filosofia. Os da geração do Ondjaki, que andaram até agora na carroçaria porque ao volante estava o pai, passam para o volante...

Meditações do autor deste blogue:


1 – Os camarões vinham a acompanhar a cerveja sem custo adicional. Havia fartura e mais oferta que procura. Os “nacionalistas” e/ou os seus filhos não comiam camarões? Quantos estavam nessa luta? Porque se refugiaram em Argel, na Zâmbia ou no Congo? Para não serem presos pela PIDE? Pois é, os muito poucos que comiam camarões e a esmagadora do resto da população, independentemente da origem e/ou da raça, também estavam quietinhos e caladinhos pelos mesmos motivos. O pai não contou assim? Então é melhor mesmo pesquisar melhor. Não ficar só com uma versão!
  Ficaram alguns poucos brancos em Angola, mas tiveram que sair nos anos seguintes. E tiveram mesmo que sair. E não foram só brancos que abandonaram a terra. O comunismo, a DISA (irmã gémea da PIDE), a fome, a falta de assistência médica e a guerra eram implacáveis para quem não vivia no Palácio ou na sua vizinhança. Não é como o pai ensinou que foi uma opção, foi mesmo um tiveram que.
  A minha filha, pais angolanos e neta de angolana, nasceu em Angola, na Maianga, em casa e sem assistência médica, depois da independência e antes do Ondjaki. E precisamente um ano depois, tivemos que…, não foi opcção como o pai ensinou!
  E isto não é nem branquear nem escurecer nem amarelecer a história.
  Aconteceu assim mesmo.

2 – Savimbi não morreu. Foi emboscado e assassinado. Por isso é que não foi arquitecto, mas sepultado.

3 – A Isabel dos Santos, a família e os generais, herdaram de quem? Como foi mesmo obtido o legado deixado. E pelo que o Ondjaki afirma, não foram só eles não. Vamos esperar quem mais vai servir para branquear a riqueza. O Povo (99,9 %) que já não acusa, nem é tido nem achado, para não ir cangado, vive como?

4 – A partir de agora é que vão ter de lutar pelo fim da miséria. Os que viajaram até agora na carroçaria? Camaradas como o Ondaki? Mas afinal ele estudou onde, se formou onde, viveu onde? Nos últimos dez anos no Rio? Não é bom viver em Angola?
Os outros Filhos da Pátria que viajaram na carroçaria até agora, estão aonde? Onde se formaram, como viveram nestes anos?

E os combinadores condutores como Juju e seus comparsas, onde estiveram nestes anos todos, em que o Povo não tem casas nem medicamentos, muitas vezes mesmo nem comida?
 
E os outros é que comiam camarões?

O tempo passou por nós deixando uma devastação indescritível, restando-nos apenas farrapos duma memória longínqua.
  
E assim a história vai ficando amarelecida pelo tempo.